Em uma entrevista marcante ao jornal A BOLA, Chiquinho Conde, lenda do futebol moçambicano e atual selecionador nacional, refletiu sobre o talento inesgotável do país para o desporto-rei, a importância de investir na formação e a sua trajetória repleta de histórias inesquecíveis no futebol português.
Para Conde, o talento em Moçambique continua tão vibrante quanto nos tempos de Eusébio, Coluna e Matateu. “Todos os dias nascem Eusébios, Colunas, Matateus… Chiquinhos Condes nem se fala, é às catadupas”, afirmou, destacando que o verdadeiro desafio está na falta de condições e infraestruturas para desenvolver esse potencial. Ele apelou às grandes equipas portuguesas para ajudarem nesse processo, ressaltando as ligações históricas entre clubes como o Maxaquene e o Sporting.
A Inesquecível Jornada para Portugal
Chiquinho foi pioneiro no período pós-independência, sendo o primeiro jogador a obter autorização especial para atuar fora do país. “Em 1986, o Benfica quis-me levar, mas, por lei, eu não podia sair. No ano seguinte, o Belenenses visitou Moçambique, jogou com o Maxaquene e ficou impressionado comigo. Em 1987, após mudanças políticas, tornei-me o primeiro moçambicano a jogar em Portugal no período pós-independência”, relembrou.
O destino acabou por ser o Belenenses, após uma disputa acirrada com o Benfica. “Quando cheguei a Lisboa, não sabia por qual clube iria assinar. O Benfica estava em digressão nas Américas, e o Belenenses mostrou mais agilidade nas negociações, pagando 120 mil dólares pelo meu passe, uma quantia impressionante na época. Sou eternamente grato ao Belenenses, onde conquistei uma Taça de Portugal.”
Vitória de Setúbal: Amor à Primeira Vista
Outro capítulo importante da sua carreira foi no Vitória de Setúbal, clube pelo qual jogou em três períodos distintos. “Cheguei ao Vitória na II Divisão e apaixonei-me pela cidade, que me lembrava a Beira, a minha terra natal. Fiz uma grande dupla com Rashidi Yekini, uma lenda do futebol africano. Tivemos uma temporada mágica, com ele marcando 21 golos e eu 15.”
O carinho pelo clube foi tão grande que Chiquinho recusou sair a custo zero para o Sporting, renovando contrato para garantir uma compensação financeira ao Vitória. “Naquela altura, o equivalente a 400 mil euros foi importante para o clube. Hoje lamento a queda do Vitória, mas espero que volte ao topo.”
O Sonho de Vestir a Camisola do Sporting
Quando chegou ao Sporting, em 1995, Chiquinho realizou um sonho de infância. “Desde criança, era sportinguista. Na Beira, uma loja exibia fotografias do Sporting impecavelmente vestido, e eu dizia a mim mesmo: um dia vou jogar lá. Aos 29 anos, cumpri esse sonho.”
No Sporting, teve a oportunidade de jogar ao lado de lendas como Luís Figo, Balakov e Sá Pinto. Apesar de algumas limitações de tempo em campo devido às regras de estrangeiros, Chiquinho considera este o ponto mais alto da sua carreira. “Ganhei mais uma Taça de Portugal e realizei o sonho de criança. Foi um privilégio.”
Um Apelo ao Futuro
Chiquinho Conde finalizou a entrevista com um apelo: “Moçambique tem talento de sobra, mas precisa de investimento. Espero que clubes portugueses continuem a ajudar no desenvolvimento do futebol moçambicano. Com melhores condições, poderemos ver muitos mais Eusébios brilhando nos melhores campeonatos do mundo.”
A paixão de Chiquinho Conde pelo futebol e a sua dedicação ao crescimento do desporto em Moçambique fazem dele não apenas uma lenda, mas também uma inspiração para futuras gerações.