Na conferência de imprensa de antevisão ao jogo da 8ª jornada contra a União Desportiva do Songo, o treinador do Black Bulls, Hélder Duarte, deixou grandes revelações sobre a atual situação do futebol moçambicano. Duarte, com uma postura crítica, destacou várias questões estruturais que, segundo ele, afetam negativamente a performance e o bem-estar dos jogadores.
“Há coisas que nós não conseguimos controlar, e uma delas é a desorganização. Acho que há muito pouca preocupação com o atleta em Moçambique. As pessoas querem competição e campeonato, mas o mais importante, que é o atleta, não tem essa preocupação”, afirmou Duarte.
O treinador português salientou a falta de organização e respeito para com os jogadores, exemplificando com a recente situação da seleção moçambicana. “Quando temos uma seleção que joga na segunda-feira e, neste momento, estão a viajar de Marrocos para Lisboa, vão estar 7 horas em Lisboa sem fazer nada e vão chegar amanhã às 6h da manhã. Jogaram na segunda, passaram uma semana sem fazer nada. Que jogadores eu vou encontrar? Não sei como é que vai chegar o Hernan, o Nené”, questionou.
Duarte também levantou suspeitas sobre o agendamento do jogo para terça-feira, sugerindo que a União Desportiva do Songo, que teve cinco jogadores convocados para a seleção nacional, poderia ter influenciado a decisão devido ao seu patrocinador. “Nós temos um patrocinador da liga moçambicana de futebol que é o principal patrono da UD Songo. Há coisas estranhas aqui. Para vocês é normal, para mim não é normal”, criticou.
Além disso, Hélder Duarte chamou a atenção para as condições precárias dos estádios e a falta de uniformidade no equipamento. “Só peço que se respeite os jogadores, porque acho que não se respeita os jogadores em muitas situações, como as condições do relvado. Quando jogamos fora, há estádios onde passamos por meio dos adeptos. Primeiro que, quando chegamos ao campo, muitas vezes é uma confusão”, desabafou.
O técnico também fez uma comparação com a organização do futebol em outros países, destacando a necessidade de melhor infraestrutura e condições de trabalho para os atletas. “Temos jogadores como o Renildo Mandava, por exemplo, que vive em 5 estrelas, com refeições top dos tops. Levam o seu cozinheiro, têm batalhões levando os jogadores para os jogos. Aqui temos um jogo da jornada e o jogo é terça-feira às 14h, que não vai ser televisionado. Como é que vocês valorizam o vosso espetáculo?”, indagou.
Duarte apontou para a falta de registro e transmissão dos jogos do campeonato, o que dificulta a valorização do futebol moçambicano. “Na semana passada, tivemos um agente FIFA que veio pedir os jogos do nosso campeonato. Se não somos nós a gravar os jogos do campeonato, não há outro a gravar. Como é que nós vamos valorizar os nossos campeonatos se não temos jogos gravados? Posso vos dizer que, em Portugal, a 4ª divisão tem uma base onde acedes à aplicação e tens todos os jogos do campeonato de todos os clubes. Estamos a falar de 56 clubes, e é um campeonato da 4ª divisão em Portugal. Nós queremos ver jogadores de outros países, vamos ao Wyscout, procuramos a equipa e lá estão os jogos. Moçambique não tem. Isso é que a liga tem que se preocupar”, enfatizou.
O treinador também criticou a disparidade nas bolas utilizadas nos jogos e a falta de cuidado com os relvados. “Nós jogamos com uma bola de 13 mil, 14 mil, e os outros jogam com bola de três, quatro mil. Acham que é igual um campeonato da primeira divisão? Não é. A liga compra bolas e distribui para os clubes. Isso sim é ajudar o campeonato, é ajudar os jogadores. Os relvados sintéticos e naturais devem ser regados antes do jogo para evitar lesões. Estamos a proteger o atleta. Há pequenas coisas que podemos melhorar”, concluiu.
Duarte destacou que, apesar das dificuldades, a Black Bulls está determinada a enfrentar a União Desportiva do Songo e tentar sair vitoriosa. Com a chegada dos jogadores da seleção nacional prevista para sexta-feira, o desafio será preparar a equipa para o confronto crucial da próxima terça-feira.
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