O Desportivo da Matola tornou-se, nos últimos dias, o centro de um debate que vai muito além da sua própria sobrevivência. O clube, que há oito meses não paga salários aos seus jogadores, viu estes optarem pela falta de comparência no último jogo, um ato extremo de protesto e de dignidade laboral. Perante esta situação, o presidente do clube, Sibosiso Semelane, não escondeu a falta de soluções e admitiu a possibilidade de desistência formal da prova.
Mas afinal, o que está por detrás deste colapso?
Empresas de costas voltadas ou Moçambola sem credibilidade?
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É inevitável questionar: as empresas realmente fecharam os olhos ao Desportivo da Matola, ou o problema está na própria credibilidade do Moçambola?
Num cenário em que o futebol é cada vez mais uma indústria, as empresas procuram retorno de imagem e segurança nos seus investimentos. Será que o campeonato nacional oferece hoje essas garantias? Será que os clubes possuem estruturas profissionais capazes de atrair e reter patrocinadores?
O caso do Desportivo da Matola expõe uma ferida que não é nova: muitos clubes vivem de subsídios pontuais, apoios informais ou mesmo da boa vontade de dirigentes, sem um plano de sustentabilidade. Quando a torneira fecha, sobra apenas a crise.
O risco de efeito dominó
Hoje é o Desportivo da Matola, amanhã quem será? A pergunta é pertinente porque a realidade mostra que a maioria dos clubes nacionais não possui estabilidade financeira. O cenário de salários em atraso, falta de patrocínios e orçamentos limitados é comum.
Se nada for feito, a desistência de clubes pode deixar de ser exceção para se tornar regra. E aí, não será apenas a tabela classificativa a sofrer alterações, mas a própria imagem do campeonato.
Impacto desportivo da desistência
O regulamento é claro: se o Desportivo da Matola desistir, os seus resultados serão anulados. Isso significa mexidas diretas na tabela:
- O Baía de Pemba, que venceu os dois jogos contra os matolenses, perde 6 pontos;
- Outros clubes que ganharam, perdem 3 pontos;
- Apenas Chingale, Ferroviário de Nacala, Textáfrica e Ferroviário de Maputo, que empataram, perdem um ponto.
Ou seja, para uns será castigo severo, para outros uma espécie de alívio. Mas será justo que os erros de gestão de um clube tenham repercussões desportivas em toda a prova?
O Moçambola precisa de uma reforma estrutural?
O episódio levanta uma questão maior: será que o Moçambola, como está hoje, é viável?
Talvez o problema não seja apenas de clubes isolados, mas do próprio modelo da competição, que parece não garantir atratividade, sustentabilidade e justiça competitiva.
Uma liga profissional forte precisa de:
- Regras claras de licenciamento, que obriguem os clubes a provar capacidade financeira antes de competir;
- Estratégias de marketing e televisão, que aumentem a visibilidade e o retorno para patrocinadores;
- Gestão profissionalizada, em vez de depender apenas do voluntarismo dos dirigentes;
- Proteção dos atletas, que são sempre os mais penalizados com salários em atraso e falta de condições.
Conclusão: o iceberg ou apenas a ponta dele?
O Desportivo da Matola não é apenas um caso isolado. É o espelho de uma crise estrutural que ameaça o presente e o futuro do futebol nacional. Se o campeonato não se reinventar, se não houver uma abordagem séria para atrair investimento e garantir credibilidade, novos “icebergs” vão continuar a afundar clubes, e com eles, a paixão de milhares de adeptos.
O debate está aberto: o problema é do Desportivo da Matola ou do Moçambola inteiro?