O recente pronunciamento do presidente do Conselho Municipal da Maxixe, Issufo Francisco, volta a expor uma realidade que vai muito além das fronteiras da província de Inhambane: a fragilidade da sustentabilidade do desporto em Moçambique.
Apesar dos esforços, como o investimento de 4 milhões de meticais na reabilitação do Campo Municipal Valdemar de Oliveira Fernandes, único estádio homologado para acolher jogos do Moçambola em Inhambane. As receitas continuam a ser insuficientes para cobrir os custos de manutenção. Essa situação levanta uma questão incontornável: até onde podemos caminhar se a lógica atual de gestão e financiamento do desporto se mantiver?
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O peso da manutenção sem retorno
Segundo o edil da Maxixe, as receitas provenientes dos jogos são “insignificantes”. Nos confrontos provinciais praticamente não há retorno financeiro, restando apenas os jogos do Moçambola para gerar alguma receita. Ainda assim, o valor arrecadado é incapaz de cobrir despesas fixas como água, energia, salários de funcionários e intervenções de manutenção no estádio.
Aqui surge o dilema: como manter infraestruturas desportivas operacionais sem um modelo de financiamento sustentável? A curto prazo, a solução tem sido o recurso a fundos municipais ou programas internacionais, como o FIFA Forward, que apoiou a requalificação do estádio em 2023. Mas e a médio e longo prazo?
Uso racional: solução ou limitação?
Na tentativa de preservar o estádio, a edilidade optou por restringir o seu uso apenas a jogos oficiais, excluindo torneios recreativos e partidas amistosas. Essa decisão, embora garanta maior durabilidade da infraestrutura, também limita o potencial de geração de receitas alternativas e reduz o acesso da comunidade ao espaço.
A questão que se coloca é: de que serve uma infraestrutura de referência se a mesma não consegue servir amplamente a comunidade desportiva?
Reflexões para o futuro
O caso da Maxixe é um espelho das dificuldades que se vivem em várias províncias:
- Dependência excessiva do Estado e dos municípios, sem modelos de autossustentação;
- Receitas desportivas limitadas, num mercado ainda em crescimento e com baixa capacidade de consumo;
- Infraestruturas pouco exploradas como polos de negócios, lazer e cultura, que poderiam diversificar as fontes de rendimento.
Se não houver uma mudança de paradigma, a consequência mais provável é a degradação progressiva das infraestruturas, o que compromete não só a realização do Moçambola, mas também o desenvolvimento do futebol de base e das competições locais.
Até onde podemos caminhar?
A reflexão é inevitável: se os municípios continuam a investir milhões sem retorno financeiro claro, e se a gestão dos estádios se limita a tapar buracos momentâneos, quanto tempo ainda resta antes de vermos mais campos a degradarem-se e a ficarem inutilizáveis?
O debate sobre a sustentabilidade do desporto em Moçambique deve, portanto, ir além da paixão pelo futebol. É uma questão de gestão estratégica, parcerias público-privadas, inovação no uso dos espaços desportivos e, acima de tudo, de planeamento sustentável.
Enquanto isso, as províncias vão tentando “contornar o pior”, mas o futuro permanece incerto se não se encontrarem soluções duradouras.